Flávia Botelho
Hoje,
substituo as portas e o giz
pelos brainstormings no espelho a marcador.
E de cada vez que trabalho sinto-me como uma criança
a brincar com a sua equipa de primos.
a maturidade, responsabilidade e os valores pessoais
substituem hoje o que outrora foi o papel da mãe, das tias, da avó de prevenir asneiras,
tratar dos comuns arranhões
e estimular a levantar voo,
em equilÃbrio e segurança..
Na escola, o recreio de terra batida viu nele nascer circuitos de pistas de carros feitas com o auxÃlio das réguas
que saltavam das mochilas.
Desenhar? Sempre com giz da alfaiataria do avô
nas velhas portas de madeira.
Estudava-se com o mesmo método:
eu virava professora e as portas
viravam quadros de giz.
A mãe via a novela, eu gostava mais da
publicidade do horário nobre
que dos bonecos matinais.
Tive o privilégio de ter crescido no seio de uma famÃlia grande, jovem e unida.
A casinha das brincadeiras era feita de tábuas de madeira velhas deixadas a um canto, mesas e assentos feitos com baldes e vasos. Reutilizar e reinventar.
Cadeiras no chão viradas com as pernas para cima serviam de carros.
Muitas cadeiras faziam autocarros.
Choviam ideias sobre como passar o tempo. E passava tão rápido!
Tinha oitenta barbies, mas para quê, quando tinha vinte primos, quintal e sol para brincar? Brincar com as coisas velhas e abandonadas dos crescidos.